Convivendo com o Alzheimer

Convivendo com o Alzheimer

Instituído em 21 de setembro, o Dia Nacional de Conscientização da Pessoa com Alzheimer chama atenção para esse problema tão delicado que afeta não só a vida do acometido, mas das pessoas de sua convivência. 

Para o Dr. Júlio Pereira, neurocirurgião da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, quando se fala na conscientização do Alzheimer é preciso saber sobre dois aspectos importantes. 

O primeiro é com relação à identificação precoce dos sinais da doença, pois quanto antes houver o diagnóstico, melhor será a qualidade de vida do paciente, além do alerta a respeito dos fatores de prevenção que estão ligados aos hábitos da vida inteira. 

O segundo ponto é a incidência. Segundo o neurocirurgião, estima-se que, no Brasil, existe mais de 1 milhão e 200 mil pessoas com Alzheimer e, com o envelhecimento da população, a tendência é que esse número cresça no mundo inteiro. 

“Por isso, é fundamental falarmos do Alzheimer que não só limita o indivíduo que a possui como o seu cuidador”.

Entendendo mais sobre o Alzheimer
O neurocirurgião da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo explica que o Alzheimer é uma doença degenerativa do cérebro que acomete pessoas com idade avançada. 

“É como se cérebro tivesse uma dificuldade de conexão, por isso que o paciente tem uma alteração que é crônica progressiva e hoje ainda não temos a possibilidade de reversão”, acrescenta Dr. Júlio.

Referente aos sintomas, o médico comenta que são múltiplos, englobando desde a perda funcional da capacidade cognitiva, que envolve a memória e costuma ser o sinal inicial, além da alteração da linguagem, até a fase mais avançada que contempla as alterações de comportamento.

Justamente por essa variedade de manifestações, o tratamento da patologia também é multidisciplinar. Por exemplo: fonoaudiólogos para aqueles com dificuldade na fala e fisioterapeutas para os pacientes com dificuldade motora na etapa mais avançada.

“Em muitos casos, são usadas medicações para alteração de comportamento. Às vezes os pacientes perdem a noção de noite e dia, ficam agitados e os medicamentos tentam controlar um pouco esses fatores, modulando essas ações”, complementa. 

Alzheimer não se mostra nos exames
Dr. Júlio ressalta que a detecção da enfermidade é feita durante a consulta médica, com com avaliação e anamnese, ouvindo a história do indivíduo. 

Porém, mostra o quanto é essencial um diagnóstico de exclusão, com exames de imagem e sangue para eliminar outras causas demenciais.

“Não existe hoje um marcador ou um exame que confirma o Alzheimer. Já temos pesquisas em andamento, bastante avançadas, mas nada ainda que faça esse tipo de diagnóstico. Assim, a abordagem para a descoberta é multifatorial, envolvendo a história clínica e avaliação psicológica”, informa. 

Prevenção
Quando o assunto é prevenção, o neurocirurgião da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo comenta que envolve uma série de aspectos tais como:

- Atividade física, em especial, a aeróbica;
- Alimentação balanceada, com alimentos naturais, ação relevante no atraso do desenvolvimento da doença, claro que se detectada precocemente;
- Prevenção de fatores de risco vascular;
- Controle de doenças como diabetes, hipertensão, dislipidemia;
- Evitar o tabagismo e excesso de álcool;
- Praticar atividades intelectuais: exercícios mentais, palavras cruzadas, ler;
- Relações familiares, conexão social, afeto.

“Todas essas questões têm se mostrado bastante relevante e devem ser estimuladas na população idosa, mas obviamente que é o comportamento durante toda a vida que vai ajudar na prevenção, não é somente depois do diagnóstico”, alerta Dr. Júlio. 

Alzheimer: atenção com o paciente e cuidadores
Dr. Júlio finaliza salientando que, assim como o paciente, o cuidador também necessita de auxílio, principalmente quando se trata de familiares que acabam sofrendo muito ao ver seu parente com outro tipo de comportamento. 

“Vale buscar ajuda psicológica para o cuidador para que ele aprenda a lidar com a nova situação que torna-se muito estressante, pois a pessoa com Alzheimer é um adulto com uma grande dependência e que, mesmo com alterações na memória, tem o seu estado preservado em vários momentos, com suas vontades, o que torna o cuidado nada fácil”, reitera o neurocirurgião da BP.

O médico ainda acrescenta que proporcionar qualidade de vida é entender o Alzheimer como qualquer outra doença, pois tem tratamentos específicos para cada etapa, além de saber que o paciente terá que ser cuidado por um certo tempo.

“Por isso que sempre reforço a importância dessa dinâmica familiar, visto que não é um processo simples. Mas, de um modo geral, elas se adaptam e todos conseguem viver com mais qualidade. Costumeiramente, vemos histórias muito bonitas de cuidadores e familiares os quais tiveram um papel fundamental na vida da pessoa com Alzheimer, mesmo com a enfermidade em progressão. Obviamente que a gente sempre conta com a evolução da ciência, que tem sido rápida. Recentemente, saiu um artigo recente na revista Jama  (Journal of the American Medical Association) mostrando possíveis diagnósticos até precoces da doença de Alzheimer, com exame de sangue simples, o que pode ser um caminho para encontrar novas formas terapêuticas para evitar o desenvolvimento da patologia. Porém, isso ainda são caminhos de pesquisa em um horizonte de muitos anos”, conclui.