Alergias: é possível ter qualidade de vida?

Alergias: é possível ter qualidade de vida?

É muito difícil não conhecer alguém com alergia ou até mesmo não ter alguma delas. Essas condições afetam cerca de 35% a 40% da população em geral e, entre as mais comuns, estão as respiratórias, as quais se agravam durante o inverno, mas outras podem ser resultantes da sensibilização a alimentos, medicamentos, venenos de insetos, entre outros fatores, segundo o Dr. Ernesto Akio Taketomi, coordenador do Departamento Científico de Alérgenos da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

O coordenador explica que a rinite alérgica e asma têm acometido cerca de 35% e 20% dos adolescentes com idade entre 13 a 14 anos, respectivamente. “Nas últimas 3 ou 4 décadas têm-se observado um crescimento progressivo da incidência de alergias não só no Brasil como em todo o mundo, relacionado com o aumento da exposição a fatores alergênicos entre os indivíduos geneticamente predispostos”, adiciona.

Assim, que tal aproveitar o Dia Mundial da Alergia, instituído em 08 de julho, para aprender mais sobre o tema? Para o Dr. Ernesto, a data é de extrema importância para conscientizar à população acerca de suas doenças alérgicas, uma vez que o paciente com conhecimento, mais facilmente realiza as medidas preventivas bem como aumenta a adesão e continuidade do tratamento apropriado para o controle, indicado pelo seu especialista, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.

Alergias mais comuns
Para levar mais conhecimento e conscientização,  Dr. Ernesto lista os cinco  tipos de alergia mais comuns ou mais importantes.

1 - Rinite alérgica
Acomete as vias respiratórias superiores, sendo a doença alérgica mais comum. As causas mais usuais são os aeroalérgenos como ácaros da poeira domiciliar, pelos/epitélios de animais (cães e gatos e outros animais de estimação), fungos do ar. 

Sintomas
Coceira nasal, espirros, coriza, obstrução (entupimento) nasal, tosse, acompanhado ou não da vermelhidão e coceira nos olhos, lacrimejamento quando a pessoa apresenta rinoconjuntivite alérgica, mais frequentemente observado em alergias a pólens, em especial aqueles de gramíneas. 

Quando atinge os seios da face (seios paranasais), o paciente apresenta rinite e sinusite alérgicas que, além dos sintomas referidos acima, pode apresentar dores de cabeça, em especial quando se abaixa a cabeça, secreção espessa de coloração amarelo-esverdeada e até mal cheiro devido a presença de infecção nos seios da face. 

Tratamentos
Preventivo: limpeza diária do ambiente, com especial atenção nos fatores que o indivíduo apresenta alergia; utilização de capas antiácaro em colchões, travesseiros, almofadas, devendo dar preferência para o uso de móveis estofados revestidos com material que facilite e garanta uma limpeza eficaz como couros, couríssimo, couvin, entre outros. 

Sintomático: de acordo com a frequência e intensidade dos sintomas, deve-se utilizar medicamentos antialérgicos e anti-inflamatórios, conforme indicação médica, preferencialmente do médico especialista em alergia. Os pacientes devem evitar a automedicação, especialmente de anti-inflamatórios tópicos  e sistêmicos como corticoides e, particularmente uso de corticoides injetáveis de longa duração (corticoides de depósito). 

Imunoterapia específica com alérgenos: popularmente conhecidos como vacinas de alergia. Esse tipo de tratamento é o único que visa a hipossensibilização dos fatores causais. Deve ser empregada quando são identificadas as causas responsáveis pelo desencadeamento dos sintomas alérgicos, indicadas, formuladas, sob a orientação e supervisão do médico alergista.

2 - Asma
As causas mais comuns são as mesmas da rinite alérgica, tais como ácaros da poeira domiciliar, pelos/epitélios de animais (cães e gatos e outros animais de estimação), fungos do ar. Fumaças de cigarro ou poluentes e odores fortes como produtos derivados do petróleo e materiais de limpeza em geral entram como fatores agravantes. Além disso, pessoas que apresentam asma, frequentemente também são portadores de rinite. 

Sintomas
Tosse, geralmente produtiva (com expectoração), dificuldade de respirar, chiado no peito, opressão (aperto) no peito (tórax) e outros sinais sistêmicos conforme a gravidade do paciente. 

Tratamentos
Preventivo: realizar a higienização ambiental e afastar, na medida do possível, as causas confirmadas pela presença de anticorpos IgE específica por meio de testes alérgicos e/ou de exames de sangue. 

Sintomático: conforme avaliação médica e gravidade da asma, deve-se empregar medicamentos anti-inflamatórios e broncodilatadores sob a orientação de um médico especialista. 

Específico: imunoterapia específica com alérgenos (vacina de alergia) quando o acometido apresentar anticorpos IgE a algum fator que justifique essa modalidade terapêutica, associando-se a exposição desse fator com a piora dos sintomas, sendo formuladas, orientadas e supervisionadas por um médico especialista em alergia.

3 - Dermatite atópica
Na maioria das crianças não é possível detectar uma causa específica, porém em outras pode-se confirmar a presença de sensibilização alérgica a alimentos, mais frequentemente a proteínas do leite de vaca e ovo; agentes inaláveis como ácaros da poeira domiciliar. Entre os fatores agravantes pode-se citar o calor, seja climático ou ambiental como água quente do chuveiro, pois intensifica e piora a perda de água da pele. A presença de infecções causadas por bactérias ou fungos são capazes de piorar significativamente o quadro. 

Sinais e sintomas
Lesões tipo eczema em regiões de dobras como cotovelo e atrás dos joelhos, pescoço, vermelhidão e descamação da pele e em casos graves, pode acometer a pele de todo o corpo, apresentando caracteristicamente uma pele extremamente seca e com intensa coceira, que causa piora das lesões, irritabilidade, distúrbios do sono e desconforto social, afetando drasticamente a qualidade de vida desses indivíduos com quadro grave de dermatite atópica. 

Tratamentos
Preventivo: evitar algum fator alérgico que o médico alergista tenha detectado e uso constante e diário de emolientes e hidratantes locais, com a finalidade de auxiliar a manter a hidratação da barreira epidérmica e, concomitantemente, amenizar as lesões visíveis na pele. 

Sintomático: por meio da utilização de anti-inflamatórios tópicos e/ou sistêmicos, conforme indicação do médico especialista. 
Específico: quando a causa é esclarecida e existir correlação com a piora dos sinais e sintomas da dermatite atópica, o médico especialista em alergia poderá indicar uma melhor estratégia imunoterapêutica específica.

4 - Alergia a medicamentos 
Vários medicamentos, sejam aqueles corriqueiros, como para febre e dor, bem como medicamentos éticos receitados pelos médicos podem causar algum tipo de reação alérgica. Entre os analgésicos e antitérmicos, o campeão em causar alergia é a dipirona, seguido pelos medicamentos denominados anti-inflamatórios não hormonais (AINHs ou também AINES, de não esteroidais) como aspirina, diclofenaco, nimesulida entre tantos outros. 

Sintomas
As reações alérgicas a medicamentos podem ocorrer em qualquer órgão ou elementos do sangue, mas frequentemente observa-se reações alérgicas na pele, por uma variedade de manifestações clínicas como urticária ou outras avermelhadas. 

Tratamentos
Preventivo: quando identificada a droga que está causando a reação alérgica, deve-se afastá-la imediatamente, pois a continuidade do uso irá piorar progressivamente os sintomas.

Sintomático: quanto ao tratamento das manifestações clínicas, vai variar conforme o quadro do paciente, e o uso de antialérgicos e anti-inflamatórios como corticoides deve estar sob a responsabilidade e orientação do médico assistente.

5 - Alergia a picadas de insetos 
As alergias a picadas de insetos podem ocorrer a uma variedade enorme de gêneros e espécies de insetos, mas comumente, observa-se reações alérgicas de grande importância naquelas causadas por venenos de abelhas, formigas e mosquitos. 

Sintomas
Observa-se lesões na pele nos locais da picada, mas nos indivíduos alérgicos pode-se notar que as reações acometem maior área em consequência de apenas uma picada e pelo ato da coçadura. Frequentemente essas lesões sofrem infecção secundária por bactérias. Caracteristicamente, elas são constituídas por vermelhidão e inchaço em torno da picada, que avança para outras áreas, seguida pela formação de uma pequena bolha (vesícula) no local da picada que poderá se transformar em pústula (lesão com formação de pus) devido a instalação da infecção secundária. 

Já as reações alérgicas causadas pelas picadas de abelhas e formigas, além das manifestações locais descritas acima, a maior preocupação é com as ocorrências sistêmicas após a picada. Além da vermelhidão da pele em todo o corpo, poderá levar a dificuldade intensa de respirar e falta de ar devido ao edema de glote, diminuição progressiva da pressão arterial, que se não medicado imediatamente, a pessoa corre risco de vida por conta do quadro bastante grave que se denomina anafilaxia ou choque anafilático. 

Tratamentos
Preventivo: deve-se identificar a causa da alergia e tomar as medidas cabíveis para evitar as picadas de insetos. 

Sintomático: depende da gravidade do quadro. Sendo intenso deve ser tratado em nível de pronto atendimento e, se necessário, internamento hospitalar. Independente da gravidade do quadro alérgico, o paciente deve estar sob os cuidados de um médico habilitado para o atendimento. Quando existe o risco de reações graves a abelhas ou formigas, geralmente a pessoa orientada pelo médico alergista, já possui os medicamentos de uso imediato após sofrer a picada do inseto envolvido, particularmente as canetas injetoras contendo medicamentos broncodilatadores e vasopressores como a epinefrina, para em seguida, procurar um unidade médica de pronto atendimento. 

Específico: imunoterapia própria com veneno de insetos é indicada quando o acometido apresenta anticorpos IgE específicos dirigidos contra algum veneno, no qual exista uma clara associação clínica entre a exposição ao veneno do inseto e a manifestação dos sintomas. Este tipo de tratamento deve ser realizado em ambientes hospitalares ou que tenham estrutura para o atendimento de reações importantes e graves, uma vez que há riscos de desencadear o quadro alérgico mediante à aplicação do imunoterápico. 

“A pessoa que recebe este tipo de tratamento deve estar esclarecida e ciente de que reações sérias possam ocorrer, uma vez que está sendo injetado uma quantidade progressiva de veneno para induzir a tolerância imunológica, porém a dose que causa tolerância e reação alérgica, pode ser próxima e, portanto, imprevisível e variável de paciente para paciente. Contudo, o tratamento específico para venenos de abelha e formigas têm-se mostrado eficaz, sendo capaz de induzir tolerância a esses alérgenos, isto é, o sucesso é observado quando o indivíduo, após o tratamento específico, e não apresenta reações consideradas graves depois de sofrer uma picada do respectivo inseto, alerta Dr. Ernesto.

É possível ter qualidade de vida convivendo com as alergias?
O coordenador finaliza mostrando que é possível sim, visto que o objetivo de todos os tratamentos, incluindo o preventivo, sintomático e específico com alérgenos (vacina de alergia) é proporcionar a melhora da qualidade de vida. “Por isso, a importância da pessoa estar sob a orientação e os cuidados de um médico especialista em alergia”, conclui.