Doe órgão e salve vidas!

Doe órgão e salve vidas!

O Dia Nacional da Doação de Órgãos (27/09) foi instituído pela Lei nº 11.584/2.007 e visa conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e, ao mesmo tempo, fazer com que as pessoas conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto.

Diante da importância da data, a Oncoprod entrevistou o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), José Huygens Garcia, que nos deu mais detalhes sobre esse assunto tão relevante. Confira e ajude a salvar vidas!

Portal Oncoprod: qual a importância do Dia Nacional da Doação de Órgãos? 
José Huygens: sem doação de órgãos não há transplantes. Sensibilizar a população para esse ato de amor e solidariedade, com o objetivo principal de reduzir a negação familiar e salvar muitas vidas. Divulgar que morte encefálica é irreversível e que o Sistema Nacional de Transplantes é transparente e que a distribuição dos órgãos é por critérios éticos, sem nenhuma influência política, econômica ou social.

PO: como funciona a doação de órgãos?
JH: o Brasil tem um dos mais rígidos protocolos de morte encefálica, redigido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O potencial doador é submetido a duas avaliações clínicas por médicos diferentes e treinados para o diagnóstico de morte encefálica. Em seguida, é realizado um método complementar como eletroencefalograma ou doppler transcraniano que evidenciam ausência de atividade cerebral ou de fluxo sanguíneo. São realizados também exames de sangue para afastar doenças infecciosas com potencial de transmissão para os receptores. Devido a pandemia pela Covid-19, foi adicionado o RT-PCR SARS-CoV-2. 

PO: como funciona a Lei de Transplantes?
JH: o Brasil tem o segundo maior programa de transplantes do mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos. A portaria número 2.600, de 21 de outubro de 2009 do Ministério da Saúde, descreve o regulamento técnico do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). As filas de espera são estaduais, reguladas pelas Centrais Estaduais de Transplantes. Cada órgão tem peculiaridades, com priorização para os casos mais graves e o próprio paciente pode acompanhar sua posição na fila, conferindo transparência ao sistema.

PO: quais órgãos podem ser doados após a morte?
JH: após a morte encefálica podem ser doados os seguintes órgãos: rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas e intestino. No entanto, após a parada do coração, somente tecidos, como córneas, no prazo máximo de 6 horas.

PO: existem órgãos que podem ser doados em vida, desde que não prejudique a saúde do doador? Como funciona esse processo? Quem pode doar ainda em vida? 
JH: o transplante intervivo mais realizado é o renal, seguido do hepático. Os candidatos a doação são avaliados minuciosamente para descartar comorbidades que possam acrescentar riscos. Geralmente são familiares de primeiro grau que fazem a doação.

PO: para quais razões de saúde pode obter-se uma doação de uma pessoa ainda viva?
JH: no transplante renal para abreviar o tempo em hemodiálise. Crianças na lista de transplante de fígado, devido ao baixo peso, têm dificuldade em conseguir um órgão. Nessa situação, geralmente o pai ou a mãe doa uma parte do seu fígado.

PO: quantas vidas uma doação pode salvar?
JH: os órgãos mais transplantados são os rins, fígado, coração, pâncreas e pulmões. Os tecidos são principalmente córneas, pele e ossos. Em média, sete vidas podem ser salvas com os transplantes de órgãos de um doador.

PO: como tornar-se um doador de órgãos? Depois da morte, a família pode barrar a doação?
JH: no Brasil não existe doação presumida. O mais importante é que todos se manifestem em vida a favor da doação de órgãos, pois nesses casos a família quase sempre segue a vontade do ente querido. Após a conclusão do protocolo de morte encefálica, a família é entrevistada e é soberana na decisão de autorizar ou negar a doação de órgãos.

PO: quais são as principais causas de morte encefálica?
JH: os traumatismos cranioencefálicos, ocasionados por acidentes automobilísticos e arma de fogo, e os acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos e isquêmicos, correspondem a mais de 70% das causas de morte encefálica. 

PO: quais são os principais motivos para a doação ser tão baixa aqui no Brasil? 
JH: o Brasil é um país heterogêneo e com dimensões continentais, com a taxa de doação variando em cada região e estado. O Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) da ABTO de 2019 apresenta os seguintes dados: taxa de doação por milhão de habitantes do Brasil = 18,1 doadores pmp. 

Os Estados Unidos e muitos países da Europa têm uma taxa de doação de 20-30 pmp. A Espanha é a referência internacional com cerca de 40 doadores pmp. No Brasil, destaque especial para Paraná e Santa Catarina que ultrapassaram a marca de 40 doadores pmp ao ano. Em 2019, a principal causa para a baixa taxa de doação foi a negação familiar de 40%.

PO: existem órgãos que não podem ser doados? Se sim, por quê? 
JH: órgãos de potenciais doadores com antecedentes de neoplasias malignas, com infecções não controladas e com RT-PCR positivo para coronavírus.

PO: qual foi impacto da pandemia da covid-19 nas doações?
JH: houve uma redução de cerca de 40% nas doações e transplantes após março de 2020, ocasionada pela pandemia da Covid-19. Como consequência, acúmulo de pacientes nas filas de transplantes e maior mortalidade. Assim, é essencial a retomada dos transplantes para que vidas possam ser salvas.

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