Queixa de perda de memória não deve ser ignorada

Queixa de perda de memória não deve ser ignorada

A perda de memória pode acometer qualquer pessoa, em qualquer idade, embora seja mais frequente com o processo de envelhecimento, a partir dos 60 anos de idade.

De acordo com o neurologista professor livre-docente de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Renato Anghinah, a incidência da perda de memória é menos comum entre os mais jovens e mais comum entre os mais idosos, veja a seguir: 

- De 50 a 60 anos de idade: 1 em 2.500 pessoas; 

- De 60 a 70 anos de idade: 1 em 50 pessoas; 

- De 70 a 80 anos de idade:  1 em 10 pessoas; 

- De 80 a 85 anos de idade: 1 em 4 pessoas; 

- De 85 a 90 anos de idade: entre 30% e 50% da população.

O especialista diz que para definir o que é perda de memória, primeiro é preciso definir o que é memória. “Memória é toda aquisição e armazenamento, é a capacidade de guardar todas as informações que a gente vai adquirindo durante a vida e também, conseguir acessar essas informações, ou seja, adquirir informação, armazenar a informação e evocar essas informações, ou seja, conseguir buscar e lembrar das coisas”, explica o Dr. Anghinah.

Essa aquisição de memória, nada mais é do que o nosso aprendizado, o que a gente aprendeu no decorrer da vida. Então, a perda de memória é qualquer coisa que atinge esse processo de aquisição, armazenamento e evocação, ou seja, a capacidade de conseguir recuperar aquela informação que nós adquirimos no decorrer da vida toda.

“Qualquer pessoa, com qualquer idade pode ter problemas com perda de memória. Posso ser uma pessoa jovem, que durmo muito mal ou posso ser muito ansioso ou estar deprimido e isso impacta na minha memória. Mas, ela acontece de forma mais frequente com o avançar da idade, ou seja, com o processo de envelhecimento, a partir dos 60 anos de idade; ou em pessoas que têm doenças genéticas e histórico familiar que podem apresentar outros tipos de demências”, esclarece.

A queixa de perda de memória deve ser sempre investigada. Ela não pode ser ignorada porque pode ser um sinal de que alguma coisa está errada com o organismo. “Assim como uma dor de cabeça ou um desconforto gástrico crônico, se a perda de memória é algo que incomoda e persiste por meses, quando o rendimento mnemônico está prejudicado, deve ser feito um checkup para descobrir a causa, que nem sempre é Alzheimer. Muitos casos são quadros depressivos, distúrbios de ansiedade, distúrbios de sono, distúrbios metabólicos da tireoide, hormonais ou nutricionais, estresse. Existem outras coisas que podem afetar a memória. É importante descobrir o fator causal para que possa ser tratado. Existem muitas possibilidades para que a perda de memória possa ser corrigida ou atenuada. Tem alguns quadros mais graves, que também podem comprometer a memória, mas que também podem ser reversíveis, como AVC, hidrocefalia de pressão normal, sífilis, encefalites, hematomas subdurais.”

O Dr. Anghinah comenta que existem pacientes que gostam de ter uma avaliação basal, sem ter uma perda de memória propriamente dita, mas porque muitos familiares tiveram, então eles querem saber como está a condição cognitiva deles em estado normal, para quando acontecer alguma coisa, ter como comparar essa condição. “Mas a indicação da investigação fica de fato fica para aquelas pessoas que têm queixa de perda de memória, independente da idade. Dependendo da idade você vai pensar em diagnósticos diferentes, mas quando a perda de memória ou a dificuldade de lembrar coisas está prejudicando as atividades diárias, de maneira que traga um desconforto no processamento da memória do dia a dia, ela deve ser melhor avaliada”.

Perda de memória X Covid-19

Um acontecimento frequente dentro dos consultórios médicos tem sido o relato de pacientes que tiveram Covid-19 com quadros sequelares neurológicos, sendo que um dos mais frequentes é queixa de perda de memória ou a condição de raciocínio mais lentificada ou nublada. “O Covid-19 deixou essa sequela em 30% dos acometidos. Alguns pacientes têm uma melhora espontânea e outros através de terapia medicamentosa ou cognitivas podem fazer a reabilitação.”

Diagnóstico preciso

Uma das recentes inovações para o diagnóstico da perda de memória e para mais 600 funções, é o Altoida, um teste rápido, não invasivo e indolor que avalia, por meio de um tablet, os dados para identificar o risco de um paciente desenvolver a doença, até dez anos antes dos primeiros sintomas, ou seja, é uma ferramenta com foco em rastreio e detecção precoce do problema. 

Desenvolvida por neurocientistas na Suíça e disponibilizada no Brasil pela Oncoprod, permite que o médico teste e avalie as habilidades funcionais dos pacientes, usando avançados algoritmos e inteligência artificial (IA).

De acordo com Dr. Anghinah, os avanços que o Altoida trouxe para o diagnóstico são bastante importantes, principalmente se fatores como rapidez e agilidade forem levados em consideração. “Antes, precisávamos submeter os pacientes a testes longos e demorados, pelo menos uma hora por sessão, às vezes, quatro horas de testes em dias alternados. Pensando só na questão da logística do acometido, nós já temos uma vantagem grande. O Altoida muda a vida de pacientes, familiares e cuidadores.”

O neurologista explica também que com o Altoida é possível avaliar 11 domínios cognitivos diferentes, entre elas funções motoras, cognitivas, tempo de resposta, atenção; e ao mesmo tempo, os algoritmos matemáticos e computacionais, já direcionam esses resultados de maneira instantânea. “A gente tem o resultado imediato, comparado a um banco de dados de pessoas normais, sem queixa cognitiva nenhuma, o que possibilita entender se aquele indivíduo está dentro da média normal, se está acima da média ou se está abaixo da média.”

Crédito da imagem: iStock.com/yavdat