Hanseníase: importante causa de incapacidade física

Hanseníase: importante causa de incapacidade física
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa rara, de caráter progressivo, causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Seu quadro clínico inclui lesões cutâneas típicas, granulomas, com redução de sensibilidade, além de patologias dos nervos periféricos, causando formigamento e astenia em mãos e pés. Além disso, pode acometer outros órgãos e tecidos, incluindo mucosa do trato respiratório superior, vísceras abdominais, linfonodos, medula óssea, testículos, músculos e ossos. Essa doença possui cura, de forma que seu tratamento normalmente dura de seis a 12 meses. 

A doença também é considerada uma importante causa de incapacidade física em países endêmicos como o Brasil, sendo que o diagnóstico precoce se torna fundamental para diminuir a incidência da sequela. As limitações são causadas pelo acometimento secundário dos nervos, como a perda da contratura muscular e úlceras de pele. Além disso, pode ocorrer polineuropatia sensitiva e motora, principalmente de membros inferiores. 

Apesar de todas as recomendações da Estratégia Global para Hanseníase em aprimorar a vigilância e os sistemas de informação, ainda há milhões de indivíduos com hanseníase que permanecem não diagnosticados e não tratados em todo o mundo. É de extrema importância compreender a epidemiologia da doença no Brasil, uma vez que a incidência da mesma é elevada e interfere na saúde pública, além de ocupar o segundo lugar na fila de países líderes em novos casos dessa patologia. Com isso, representa cerca de 14% de todos os novos diagnósticos que ocorrem mundialmente. 

A enfermidade também conhecida popularmente como “lepra” é uma doença crônica que gera muitas sequelas funcionais e comorbidades. Mesmo com o volumoso número de casos no País, há grande incompreensão da população sobre o tema. Como consequência, há grandes gastos em saúde. Assim, reconhecer a doença tem se mostrado de extrema importância para avaliar e fazer o direcionamento de ações de saúde, além de fomentar conhecimento e dados mais atuais sobre a mesma.

Dados consolidados no SINAN

Casos de hanseníase notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), localizado na plataforma do DATASUS, do período de janeiro de 2011 a dezembro de 2021, por meio das variáveis “região de notificação”, “ano notificação”, “faixa etária”, “sexo”, “raça”, “escolaridade”, “forma clínica notificada” e “gestantes”. 

Índices de hanseníase por região brasileira

Casos segundo a região do País, entre janeiro de 2011 e dezembro de 2021, foram encontrados o total de 375.942 casos de hanseníase no Brasil. A região Nordeste destaca-se pelo maior número de casos (42%), representando quase metade do total de notificações no período avaliado. No entanto, a região Sul apresenta os menores valores correspondendo a aproximadamente 3% do total. Além disso, as regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste apresentam-se em uma situação intermediária, sendo 20%, 19% e 14%, respectivamente. 

Em 2011 foi o ano mais expressivo, totalizando 41.493 casos e o ano de 2021 apresentou o menor número de casos, com 16.262 notificações. De acordo com os dados coletados, a frequência de casos relatados de hanseníase entre os anos de 2011 e 2021 não ultrapassou de 20% ao ano.

Índices de hanseníase por faixa etária e raça

Casos segundo o sexo, faixa etária e raça houve prevalência de casos de hanseníase em indivíduos do sexo masculino, constituindo aproximadamente 56,91% dos casos diagnosticados. Em seguida, percebe-se 43,08% de notificações do sexo feminino. E, por fim, 0,008% de casos ignorados, os quais não foram indicados pela plataforma DATASUS. Percebeu-se certa discrepância de dados, fornecidos pelo DATASUS, ao interpretar a variante “faixa etária” em relação à variante “sexo”. Tal diferença encontra-se entre os casos de hanseníase no sexo masculino e feminino e na idade entre zero e 14 anos e 15 ou mais anos. Ao analisar a variável “faixa etária”, no decorrer do período selecionado, percebeu-se preponderância dos casos de hanseníase em indivíduos com 15 anos ou mais, que correspondem a aproximadamente 93,95% do total de casos notificados. Observa-se em segundo lugar, representando 6,05% dos casos, os pacientes de zero a 14 anos. Ademais, em 0,003% das notificações, a variável não foi indicada nos pacientes, sendo esta porcentagem, considerada como ignorada. 

Quanto à variável “raça”, a cor parda é predominante nos casos de hanseníase, correspondendo a 57,16% das notificações totais, enquanto a minoria dos registros (0,44%) é composta pelos povos indígenas. A raça branca é a segunda mais frequente entre os grupos, totalizando 24,71% dos casos, seguida pelas populações preta (12,75%) e amarela (0,94%). Contudo, em 3,99% das ocorrências, não foi indicada a raça dos pacientes, sendo indicado na plataforma como ignorado ou em branco.

No Brasil, a prevalência da hanseníase diminuiu 39% quando comparado 2011 a 2021 (SINAN, 2022). Este resultado pode ser explicado pelos esforços do Ministério da Saúde em diagnosticar a doença e pela criação de políticas públicas de erradicação da hanseníase. No entanto, o País continua sendo o segundo líder de novos casos de hanseníase no mundo. Isso se deve, principalmente, à demora do paciente brasileiro, que são em sua maioria homens, para começar a se tratar e, enquanto isso, podem infectar outros indivíduos. 

Fonte: Acervo+ (Revista Eletrônica Acervo Saúde – artigo Panorama Geral da Hanseníase no Brasil: uma análise epidemiológica)
Crédito da imagem: iStock.com/a3701027